sábado, 15 de maio de 2010

PATRIOTISMO DE CHUTEIRAS

Tadeu Guerzet

Mais uma copa do mundo, mais uma convocação e mais um(a) presidente(a) será eleito(a) este ano. Momento propício para a retomada do velho patriotismo de chuteiras: Brasil, tudo verde e amarelo! “Samba, mulata e futebol” ocupando o imaginário da classe trabalhadora que se contenta: tudo vai mal, mas o meu país é o país do carnaval, pentacampeão mundial. Apesar da precarização dos empregos cada vez maior, apesar do desaparecimento paulatino da carteira de trabalho e apesar da violência, concentração de renda e o desemprego.

O futebol e, sobretudo, a copa do mundo e a seleção (partes de uma totalidade) cumprem sua função política patriótica. Karl Marx citou certa vez que o capitalismo faz do mundo sua “imagem e semelhança”. Sendo assim, como tudo neste mundo, o capital transforma o futebol também em mercadoria, comercializável e, para quem quiser consumir, bem caro as vezes!

Os torcedores não são torcida, se transformam em fanáticos religiosos, dogmáticos e, muitas vezes, burros. É hora de retirar da gaveta aquela velha camiseta da seleção. Mesmo aquelas pessoas que nem gostam muito de futebol começam a pintar a rua, comprar toda a parafernália inútil que, depois da copa do mundo, são esquecidas. Eu me ponho a pensar em vão: “Numa manifestação, lutando por direitos, eu escuto de muitos que uma passeata é coisa inútil, sem resultado, coisa de vagabundo e sem propósito. Outros tantos me respondem dizendo que gostam do que eu faço mas não participam, pois são pessoas muito atarefadas e não querem perder tempo com essas coisas. Porque essas mesmas pessoas perdem tempo com outras tantas bobagens definitivamente sem propósito algum?”

Os jogadores são “anúncios que jogam”. O objetivo é o resultado final, danem-se os 90 minutos de partida, o importante é o apito final. É o futebol praticado hoje em dia pelos cartolas, políticos e generais do gramado. Receio que pode estar chegando o dia em que algum cartola irá sugerir que se diminua o tempo da partida nas regras oficiais do futebol, diminuindo assim o desgaste dos jogadores mega-valiosos e podendo ampliar o número de partidas num dia, otimizar a utilização dos estádios, aumentar o número de torneios em um ano, assinaturas de pay-per-view e contratos com emissoras. A história do futebol, como diria Eduardo Galeano, é a “triste viagem do prazer ao dever”. O drama a inocência perdida para um futebol burocratizado, tático, parafernálico, pragmático, propagandístico, dogmático e alienante.

No Brasil, o futebol adquire dimensões especiais. Época de copa do mundo, o Brasil se veste numa só nação! Sobre a entrevista coletiva de Dunga, não pretendo comentar sobre o péssimo meio-campo convocado e, diga-se de passagem, não concordei com nenhum nome, nem mesmo o do Kaká, mas dane-se quem não concorda comigo. Pretendo comentar sobre o patriotismo exacerbado do discurso de Dunga, parecia pintar um pseudo campo de batalha onde entraremos em breve e precisamos sair de lá com uma vitória a qualquer custo, chegou a me lembrar Colin Powel defendendo a invasão ao Afeganistão.

Ainda na entrevista coletiva, é emblemática a fala de Dunga justificando a convocação da seleção brasileira (e prevendo as infalíveis críticas): “Meu papel é fazer com que um trabalhador que sai de casa as 5h da manhã para trabalhar possa sorrir e se distrair quando chegar em casa a noite”. Além do sorriso deste trabalhador, que irá sonhar com Kaká a noite, existem as milhares e incontáveis atividades econômicas diretas e indiretas ligadas à copa do mundo relacionadas ao nível de consumo, a euforia produzida e ampliada a cada dia que se aproxima a abertura do primeiro jogo da copa, a quantidade de espectadores ligados numa tela de TV na final (no caso de o Brasil estar lá), a propaganda vendida neste momento, a cotação dos preços de cada jogador de cada seleção, as apostas e “bolões” sobre os resultados, o consumo de bebidas alcoólicas, o consumo de transporte e deslocamento, os ambulantes, uma série de atividades que preencheriam uma longa lista. Ou seja, você não acha que é muito dinheiro envolvido para nós supormos que se trata apenas de um jogo?

SIM!

Supormos que, pior, os resultados são completamente aleatórios e condicionados à “sorte” ou ao preparo físico dos jogadores, a qualidade do bom futebol e o esquema tático do treinador? É muito dinheiro envolvido para nós, seres pensantes acreditarmos que o futebol é “uma caixinha de surpresas” como diz repetidas vezes Galvão Bueno. É muito dinheiro envolvido para acharmos que tudo está exclusivamente nas mãos (ou nos pés) de jogadores humanos advindos da extrema pobreza, sem garantias e vivendo no frenesi de seus 19, 20, 21, 22 e 23 anos de idade com dinheiro de sobra no exterior, com fama, mulheres, amigos e vida fácil.

O próprio Dunga na coletiva de hoje (11/05) alertava para as “pressões externas do futebol” quando reclamava do suposto “lobby” da imprensa pressionando a convocação de Ganso e Neymar. Muito dinheiro, poder político e capacidade de difusão. É uma questão de hegemonia! Muitas guerras já foram travadas pelo mundo motivadas por montantes de dinheiro inferiores aos de uma copa do mundo, ou uma “UEFA Champions League”.

O discurso de Dunga não é obra do acaso. É parte de uma construção ideológica para estabilizar a transição política. O fim da era Lula. O presidente escolhido pelas elites para conter os movimentos sociais respeitando os acordos e o consenso de Washington.

O papel da seleção brasileira de Dunga será unificar a nação com o discurso hipócrita de que é possível vencer com trabalho e disciplina, mesmo sem heróis.

2 comentários:

  1. Enquanto isso os "fdp's" do Congresso e do Senado... Junto com o excelentíssimo senhor Presidente Luiz Inácio Lula, , Eu não sabia, da Silva...

    Ficam Rindo a toa!!!

    Faça como Dunga, não use Craque!

    Marcelo Rocha - Vitória ES

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  2. Hoje saiu a notícia...depois de fazer uma péssima campanha no REal MAdrid, ir para no segundo escalão do campeonato InglÊs, no Manchester City...depois de ter amargado o Banco (e em alguns jogos nem o banco) do M.City, depois de ter voltado com o rabo entre aspernaspara disputar o campeonato paulista, Robinho, após a convocação para a Copa, recebe proposta do Milan!

    Kaká está mal no Real a um tempo...

    Ronaldinho está meio paradão em campo, mas prefiro ele. Ele tem categoria incontestável, quando quer, derruba qualquer um...como fez respondendo sua não convocação, desequilibrando no jogo contra o Juventus. Vale lembrar que esse time do Milan, jogando com Huntelaar e Borriello, que são fraquíssimos... jogando com Pirlo em má fase, é dificil ter um bom desempenho.

    Sou Ronaldinho Gaúcho!

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