sábado, 27 de março de 2010

PH: DO MITO DO"FICO" AO POSSÍVEL “QUEREMISMO”

“O Dia do Fico deu-se em 9 de janeiro de 1822 quando o então príncipe regente D. Pedro de Alcântara foi contra as ordens das Cortes Portuguesas que exigiam sua volta a Lisboa, ficando no Brasil.

Por volta de 1821, quando as Cortes Gerais e Extraordinárias na Nação Portuguesa demonstraram a idéia de transformar o Brasil de novo numa colônia, os liberais radicais se uniram ao Partido Brasileiro tentando manter a autoridade do Brasil. As Cortes mandaram uma nova decisão enviada para o príncipe regente D. Pedro de Alcântara. Uma das exigências era seu retorno imediato a Portugal.

Os liberais radicais, em resposta, organizaram uma movimentação para reunir assinaturas a favor da permanência do príncipe. Assim, eles pressionariam D. Pedro a ficar, juntando 8 mil assinaturas. Foi então que, contrariando as ordens emanadas por Portugal para seu retorno à Europa, declarou para o público: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".

A partir daí, D. Pedro entrou em conflito direto com os interesses portugueses, para romper o vínculo que existia entre Portugal e o Brasil.

Este episódio prenunciou a declaração de independência do Brasil que viria a ser proclamada em 7 de setembro de 1822” . (Wikipédia)





A opção de iniciar a presente análise com essa citação da Wikipédia justifica-se por ela apresentar uma definição bastante representativa da simplificação histórico-social que marca nosso aprendizado básico sobre a participação de D. Pedro na Independência do Brasil. Segundo o padrão de ensinamento ao qual tem acesso todo brasileiro que cursa as séries iniciais, o “Dia do Fico” é lembrado como uma data histórica de maior grandeza. A expressão remete-se a um episódio carregado de construção simbólica. Ela enaltece o espírito heróico e patriótico do príncipe regente, vinculando-se diretamente ao mito da Independência, que por sua vez transfere a D. Pedro, como num passe de mágica, toda a responsabilidade pelo sucesso dos acontecimentos e relega a terceiro plano uma análise mais complexa dos cenários latentes, manifestações sociais e movimentação de forças políticas profundamente vinculadas ao processo de independência do Brasil.

Nosso objetivo é chamar a atenção para a forma como a imprensa tem tratado o anúncio do governador Paulo Hartung de que permanecerá no Governo do Estado até o final do ano e que, portanto, não mais disputará uma vaga ao Senado. A força e a intensidade com que a expressão “Dia do Fico” foi utilizada nos últimos dias demonstra uma carga de simbolismo comparativamente desproporcional entre os dois episódios: o anúncio de D. Pedro e o de PH. Como já foi dito, quer queiramos ou não, é fato que o “Dia do Fico” compõe a essência do mito constitutivo da Nação Brasileira.

Ora, nos próximos dias, em todo o país, haverá anúncios para todos os gostos: uns ficam, uns saem, uns voltam e por aí vai... É absolutamente legítimo e necessário que as movimentações eleitorais em torno do prazo limítrofe para desincompatibilizações sejam motivo de intensa cobertura da mídia. Todo cidadão merece saber o que se passa na política, sendo que mesmo uma boa dose de análise especulativa dos cenários faz bem à democracia. Mas no caso em questão, o questionável é a forma ufanista como qualquer atitude do governador, tido praticamente com ser messiânico, é abordada pelos veículos locais de comunicação.

A expressão “Dia do Fico” é a síntese da construção simbólica em questão. Em última medida, ela associa a imagem de Paulo Hartung a de Dom Pedro. Nivela uma atitude típica de períodos pré-eleitorais a um episódio histórico que décadas após décadas vem sendo difundido e cultuado pelo aparato ideológico do Estado brasileiro. Nesses casos, não há margem para se argumentar a ingenuidade ou o despretensioso ímpeto sensacionalista do primeiro profissional de comunicação (repórter, pauteiro, ou sei lá quem...) que após o anúncio do governador optou pela expressão, criando um efeito dominó. O fato é que a associação existe e foi amplamente massificada desde sexta-feira. Não parece coincidência que isto ocorra justamente frente às palavras de um governador de estado conhecido como “Imperador”. Com certeza, as páginas dos jornais capixabas nesses dias que se passam serão um bom material de pesquisa para aqueles que no futuro quiserem estudar a construção do mito Paulo Hartung.

Mas afinal, o que aconteceu? Por que Paulo Hartung desistiu de disputar o Senado? Por que resolveu mexer bruscamente no arranjo do tabuleiro que vinha montando desde 2009? Quem sai ganhando? Quem sai perdendo? Quais os cenários que se abrem? As perguntas para essas respostas tem movido os analistas políticos desde o momento em que PH anunciou sua permanência no Governo. Uma coisa é liquida e certa: toda a construção mitológica em torno de Dom Pedro, do Dia do Fico e da Independência do Brasil omite verdades e simplifica fenômenos histórico-sociais. Da mesma forma, a barulheira em torno do pseudo “dia do fico” de PH compõe um nevoeiro onde teoricamente apenas o comandante da nau saberá navegar. Disso, já podemos tirar uma conclusão: ora, se existe a necessidade de refazer o plano de viagem e de sabotar a estrada com um nevoeiro para que os demais navegantes (os adversários principalmente, mas inclusive os companheiros de viagem) fiquem atordoados... é sinal de que alguma coisa deu errada nos planos do comandante, que agora precisa retomar o comando, custe o que custar.

É óbvio que o artigo censurado sobre as masmorras capixabas e, principalmente, a exibição da situação dos presídios em fórum paralelo a evento da ONU abalaram a imagem do estado e forneceram vasta munição aos críticos da política de segurança do governador. É notório também que o acirrado debate em torno da questão dos royalties do petróleo deixa o governo em situação desconfortável. E ainda há as tais pressões familiares citadas pelo governador, sofridas por nove em cada dez políticos... Mas nada disso seria problema se a tese da candidatura única não enfrentasse problemas. Esse é no da questão! Ao que tudo indica, o principal obstáculo a demonstrar a fraqueza da operação política montada por PH em torno do nome do vice-governador Ricardo Ferraço é uma tensão latente no terreno eleitoral. O fantasma que assombra a nau governista tem cargo, nome e sobrenome: Senador Renato Casagrande.

O governador Paulo Hartung é conhecido por evitar confrontos diretos com adversários que tenham a menor possibilidade de polarizar os processos eleitorais e lhe impor derrotas. Em 1992, ele passou ao segundo turno das eleições municipais de Vitória graças a conflitos internos do PT, que levaram o então prefeito Vitor Buaiz a apoiá-lo nos bastidores, em detrimento do candidato petista João Coser. No segundo turno daquelas eleições, PH teve muitas dificuldades para vencer o Médico Luiz Buaiz, já um veterano em final de carreira. Desde então, PH sempre esforçou-se em montar amplas coalizações que lhe permitissem vitórias muito mais pelo isolamento dos adversários do que pela sua capacidade de obter votos na massa do eleitorado. Mesmo assim, em 2002 enfrentou dificuldades para evitar o segundo turno com Max Mauro.

Em 2010, as dificuldades de Paulo Hartung são ainda maiores, pois não será ele próprio o candidato. Ao optar por Ricardo Ferraço, o governador assumiu a incumbência de ir para o pleito com um candidato de origem oligárquica, de perfil enfadonho e pouco carismático. É claro que o peso da máquina governista e o trabalho dos consultores de marketing amenizam o perfil do vice-governador. Mas mesmo assim, o plano só estaria sob controle caso não houvesse uma candidatura com densidade eleitoral forte a desafiá-lo, o que não é o caso. A pesquisa do instituto Futura divulgada no último domingo (21) demonstra Ricardo Ferraço com 33% das intenções de votos, contra 28% de Renato Casagrande. Se considerarmos que o Senador sequer anunciou formalmente sua candidatura, é absolutamente sensato falar em empate técnico. Mas os problemas do governador tendem a se agravar na medida em que os outros dois candidatos colocados até agora, o deputado federal Luiz Paulo Velozo Lucas (PSDB) e a ex-deputada estadual Brice Bragato (PSOL) também tendem a crescer, por serem lideranças consolidadas entre os capixabas. Pelo curso das coisas até a última semana, o segundo turno seria inevitável!

Quem esteve na prestação de contas do senador Renato Casagrande, no sábado dia 12 de março, percebeu que havia um clima de euforia no ar. O ambiente lembrava uma grande plenária de reta final de campanha, quando se está próximo à virada rumo à vitória. A militância do PSB presente no teatro da UFES, sob a liderança de Casa Grande e do deputado federal cearense Ciro Gomes, demonstrava disposição para o embate eleitoral. O clima de contemplação aumentou ainda mais com a presença da deputada federal Rita Camata (PSDB). Circulava rumores de que o PSDB apoiaria Renato Casagrande, que teria a tucana como sua vice. Mesmo que a tal coligação seja pouco provável em função dos desencontros entre os palanques nacionais, uma coisa deve incomodar muito ao governador, ainda que no campo das hipóteses: esta aliança seria uma grande ameaça, podendo colocar por terra todo o projeto em torno do nome do vice-governador.

Com certeza o PSB vem fazendo pesquisas para monitorar o comportamento do eleitorado. Quem sabe esteja de posse de informações até mais favoráveis do que aquelas divulgadas por A Gazeta. A partir dessa premissa, fica mais fácil interpretar a postura do senador Renato Casagrande e mesmo o clima de euforia da sua prestação de contas. E, por conseqüência, joga luz sobre o comportamento de Paulo Hartung ao anunciar sua permanência no Governo e facilita o desenho dos possíveis cenários a se consolidarem até junho.

Sem levar em consideração as implicações de uma eventual candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, que poderia forçar o senador Renato Casagrande a manter sua candidatura ainda que em condições muito adversas, cenário que nos parece pouco provável, tudo indica que a estratégia de Casagrande no tabuleiro da política capixaba é esticar a corda até o limite máximo, sempre confiando em sua grande densidade eleitoral manifestada em pesquisas. Até a última semana, dois cenários certamente prevaleciam: (1) a candidatura de Casagrande forçaria o governador Paulo Hartung a abrir um espaço na chapa governista correspondente ao poder de fogo atual do senador; (2) Renato Casagrande assumiria sua candidatura a governador após Paulo Hartung deixar o governo para ser candidato ao Senado. Nessa segunda hipótese, o PSB intensificaria o discurso oposicionista na perspectiva de fragilizar o Governo Ferraço, ao mesmo tempo em que aumentaria o assédio na perspectiva de compor uma frente de aliados com partidos que abandonariam o barco ferracista. Os bons resultados das pesquisas ajudariam nessa missão de romper o isolamento.

Ao anunciar que não deixará o Governo, Paulo Hartung estreita o raio de manobras do PSB e dificulta ainda mais a constituição de uma aliança em torno de Casagrande a partir de forças políticas que romperiam com Ricardo Ferraço. Mas ao mesmo tempo, cria as possibilidades de incorporar Renato Casagrande no projeto sucessório do Governo, na medida em que a vacância de uma candidatura ao Senado aumenta o poder de barganha dentro da frente ferracista. Ou seja, por um lado, as possibilidades de movimentação do PSB, que já eram curtas, ficaram ainda memores, mas por outro, aumentaram as possibilidades de incorporação dos socialistas no arranjo coordenado por PH. A coligação entre PSB e PSDB continua sendo um caminho promissor eleitoralmente. Porém, como já foi dito, exacerbaria contradições e conflitos entre os palanques nacionais.

Outro cenário possível, apesar de muito remoto, seria o PT aproveitar o momento de reviravolta na cena política capixaba para fazer a autocrítica da estratégia equivocada construída desde 2009. O prefeito de Vitória João Coser apostou numa jogada que garantiria a indicação do vice-governador na chapa de Ferraço e uma tal “reserva de mercado” para sua candidatura ao Governo em 2014. Mas na prática, a precipitação demonstrou-se um completo fracasso, algo que beira amadorismo político.

As movimentações recentes de Paulo Hartung transformaram o sonho petista em pesadelo. Como Ferraço não assumirá o Governo, ele poderá ser candidato à reeleição e eventualmente ficar no poder até 2018. Nesse caso, a vaga de vice-governador parece pouco para o PT, que foi o maior vitorioso das eleições municipais de 2008 e pelo que tudo indica continuará na Presidência da República a partir de 2011. A outra possibilidade ventilada seria João Coser deixar a prefeitura de Vitória pra disputar o Senado. Nesse caso, o PT entregaria sua maior vitrine administrativa ao peemedebista Tião Barbosa, atual vice-prefeito da capital e hartunguista de carteirinha. Na prática, resolver-se-ia a vida de Coser, que caso eleito assumiria um mandato de oito anos, mas correr-se-ia o risco de prejuízos incalculáveis para o projeto petista. O atual prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, passaria a ser o principal nome na fila sucessória do Governo Estadual.

Num cenário intrincado como esse, não seria nenhum absurdo se o PT considerasse zeradas todas as negociações e retomasse sua aliança histórica com o PSB. Juntos, os dois partidos criariam um tensionamento no mercado político tão grande quanto qualquer fato político que PH possa criar para favorecer seu candidato. Mas ao contrário do governador, a cúpula petista é incapaz de agir com imprevisibilidade e desprendimento político. Falta capacidade de formulação estratégica, autonomia partidária e ousadia militante!

Por fim, há quem acredite que tudo não passar de jogo de cena do governador. Segundo essa tese, no inicio de abril, após ter sido alvo de muita bajulação, PH dirá que acata ao chamado da sociedade e de lideranças políticas nacionais para assumir a tarefa sagrada de se candidatar ao Senado. Se depender do estado de ânimo da imprensa local, estaríamos diante não mais do “FICO”, mas do “Movimento Queremista”, como aquele que em 1945 pediu a permanência de Getúlio Vagas no poder. Felizmente, o movimento foi um fracasso e a ditadura do Estado Novo teve seu fim. Mas esta é uma outra história! Aguardemos o virar das páginas.


Ronaldo Cassundé - Jornalista, Consultor Político e Mestre em História Social das Relações Políticas pela UFES.

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terça-feira, 23 de março de 2010

QUARESMEIRAS X EUCALIPTOS

Destruíram nossas quaresmeiras, mas não impedirão nossa primavera!

A Mata Atlântica é uma das florestas mais devastadas do Brasil. Cerca de apenas 7% de sua área original permanece de pé.

Este final de semana fiz uma incursão pelo município de João Neiva-ES, passando por um dos trechos mais bonitos que já vi nesses estradões do interior (que não foram poucos).


Na ocasião, eu buscava chegar à comunidade remanescente Quilombola de São Pedro de Ibiraçu, que fica no município de Ibiraçu, embora se localize mais perto de João Neiva do que propriamente de Ibiraçu!.

Estavamos no carro eu, o companheiro Nilson Aliprandi e o companheiro Josely dos Reis, ambos membros do MTL.

Josely é um companheiro que se destaca na lua ambientalista no Espírito Santo. Partiu dele denuncias, coleta de provas, levantamento de desmatamentos, envenenadores de florestas, madeireiros, caçadores de animais em extinção, abatedouros clandestinos etc...etc... Muitas de suas brigas resultaram em importantes vitórias tanto na área da luta ambiental quanto dos direitos humanos como um todo, além do combate a corrupção no ES.

As diversas multas e apreensões que Josely causou a alguns proprietários rurais renderam a ele uma série de ameaças. Hoje, até onde sabemos, ele faz parte de duas listas de pessoas marcadas para morrer no interior do ES.

As terras daquela região, em grande parte, são de posse de pequenos agricultores que estão desmatando a Mata Atlântica para plantar eucalipto, motivados pelo fomento da Aracruz e promessas de lucros. Não preservam a mata desmotivados devido a falta de incentivo do governo para a pequena agricultura, falta de proteção e crédito ao pequeno camponês. Ou seja, cobiça de um lado, e favorecimento à empresa do outro.

Algumas propriedades, no entanto, pertencem a pessoas não-moradoras. Muitos são advogados, policiais e demais profissionais que moram e trabalham na capital, muitas vezes. Tem a terra por lazer.

Basicamente apuramos duas formas mais visíveis de desmatamento: O envenenamento das florestas e a derrubada sorrateira.

Em ambos os casos o comportamento das matas se assemelham a de animais sendo acuados por predadores ou pela ação do homem. Um olhar sensível te permite sentir a mata gritando por socorro enquanto é englobada paulatinamente pelos eucaliptais, sendo “fagocitada” vagarosamente e dolorosamente pelo "deserto verde", pela mata sem vida.

O envenenamento de florestas se dá quando há a aplicação direta nas árvores que vão secando até irem morrendo deixando uma área, que antes era mata densa, com cada vez menos árvores, que vão secando, caindo até se transformar num campo morto, vazio, pronto para o plantio do eucalipto.

A derrubada sorrateira é feita, na verdade, quando há o plantio do eucalipto numa área encostada na mata, e a cada corte, se derrubam mais árvores e se desmata mais circunscrevendo a mata atlântica e comprimindo-a, tornando-a uma ilha frágil num mar de eucaliptos que vai crescendo e tomando cada vez mais espaços.

A situação dessa região, especificamente, é dramática. Passamos por diversas nascentes de água já secas, córregos assoreados, restos de mata podre envenenada, ilhas de matas em meio à cortina de eucaliptais.

Certas áreas de matas estão tão ilhadas em meio ao eucalipto, ou, estão secando tão rapidamente, que é inevitável conjecturar o cenário sem aquelas árvores para muito em breve.

Uma floresta tão rica, bonita, colorida e refrescante, onde espécies como “xuxus” e “palmeiras” crescem de maneira nativa, corre o risco de desaparecer nessa região.

Nessas terras é onde se encontra o maior Jequitibá do Brasil. Quaresmeiras lindas e roxas, disputando espaço com eucaliptos feios, padronizados, sem vida.

No final foi recompensador chegar à comunidade quilombola de São Pedro. Um povo que luta contra as dificuldades do isolamento e da falta de assistência pública, lutando pelo seu território de direito e pela subsistência. Uma agricultura de subsistência onde grande parte é coletivizada e dividida entre eles mesmos.

Por fim, sobre a Mata Atlântica, fizemos filmagens e tiramos diversas fotos para cobrar das autoridades e exigir que sejam fiscalizadas estas áreas. Exigiremos que quem derruba floresta sejam punido, multado e que a área seja reflorestada. Manteremos firmes na luta em defesa da Mata Atlântica.

Tadeu Guerzet

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segunda-feira, 15 de março de 2010

JUVENTUDE DE LUTA COM MARTINIANO

O blog do Martiniano publicou no primeiro dia do mês de março o texto de Tadeu Guerzet apoiando a sua candidatura. O texto segue abaixo, mas você também pode ver direto no blog do Martiniano clicando aqui.

"O PSOL está às vésperas de definir quem será seu candidato a presidente da república. Esta definição será a mais importante da conferência eleitoral, visto que, infelizmente, a política brasileira é tradicionalmente focalizada em personalidades, e não nos partidos.

Esta eleição terá um significado grande para nós. Estaremos fragilizados sem um nome de expressão como Heloísa Helena, que irá agora garantir a representação do PSOL no senado por 8 anos e podendo ser candidata a presidente novamente numa situação muito mais privilegiada.

Um dos principais motivos pelo qual a juventude deve estar com Martiniano, em minha opinião, é porque essa juventude é quem será responsável por carregar a construção do PSOL nas costas durante este período desgraçado de estabilização e de descenso que atravessaremos. A “JUVSOL” de hoje é quem estará presente e deverá ser capaz de transformar este nosso pequeno partido numa ferramenta que conquista a confiança do povo, que dê respostas e tenha musculatura para protagonizar um processo de levante das massas no Brasil.

Dessa forma, é preciso pensar quais tarefas precisam ser cumpridas neste processo eleitoral.

Precisamos consolidar novas lideranças para este partido, que se propõe a cumprir tão difícil tarefa. Precisamos, através de nossas figuras públicas conquistar a confiança do povo, fazendo uma utilização revolucionária dos parlamentos reacionários, como dizia Lenin. Precisamos consolidar o PSOL em regiões diferentes do Brasil. O PSOL não pode ser apenas um partido de SP, RS e RJ. Precisamos, acima de tudo, que o nosso candidato a presidente da República este ano, possa se utilizar do acúmulo deste processo resultante da exposição de seu nome, para continuar cumprindo tarefas para o PSOL, se apresentando como candidato novamente em outras eleições independente do cargo que concorra.

É por isso que, acertadamente, João Alfredo optou por ser candidato no Ceará e manter seu mandato. É por isso que, acertadamente Edmilson Rodrigues optou por ser candidato no Pará e manter seu mandado. É por isso que Ivan Valente optou por ser candidato em SP, Luciana Genro no RS, Chico Alencar no RJ, e é por isso também que nosso candidato a presidente precisa ser Martiniano, para cavarmos dentro da institucionalidade burguesa a construção de uma nova trincheira do PSOL que não deixará suas tarefas partidárias depois de outubro.

Por exemplo, a candidatura de Heloísa Helena a presidente da república garantiu a ela visibilidade suficiente para que, nas eleições seguintes, saísse candidata a vereadora no município de Maceió e para que fizesse 29.516 votos e elegesse com ela Ricardo Barbosa que havia feito 453 votos, mas que vem se destacando e ganhando referência na sociedade Alagoana como parlamentar de esquerda, honesto e de luta. Com Heloísa Helena entrando no senado, teremos a oportunidade de começar a construir mais um nome do PSOL na sociedade, o suplente do PSOL poderá ter esta oportunidade de se destacar como liderança socialista no parlamento.

Com dois vereadores em Maceió, a representação do PSOL é maior que a do DEM, do PSB, do PCdoB, do PSDB e do PT! Isso sim é enfrentar o poder e combater de verdade. Isso sim faz a direita tremer, quando retiramos deles seus privilégios políticos.

A juventude do PSOL precisa que esta candidatura nacional apresente continuidade em outras lutas, e essa resposta a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio não é capaz de dar, infelizmente. O próprio Plínio afirmou que esta será sua última tarefa como militante de esquerda. Infelizmente.

Todos sabem da grandiosidade do nome de Plínio e o quanto ele é importante para o nosso partido e para demonstrar a nós, jovens, que a chama revolucionária é imortal e que os sonhos não envelhecem. Como eu mesmo já disse, Plínio de Arruda Sampaio é um dos militantes que eu mais admiro dentro do PSOL. Mas como candidato a presidente, ele não cumpre a função necessária.

Do que serviria a candidatura de Plínio?

Para buscar hipoteticamente um apoio de alguns intelectuais e movimentos sociais, da mesma forma como tentamos com César Benjamin na eleição anterior? Tentaremos consolidar o nosso partido para disputar o Brasil utilizando sempre as mesmas táticas erradas, baseadas nas hipóteses e análises equivocadas e, tentando influenciar setores inteiros da sociedade utilizando um nome da menor corrente de um dos menores partidos do Brasil, o PSOL?

Martiniano têm condições para potencializar a campanha presidencial com vigor, acompanhando as candidaturas proporcionais nos estados e, na próxima eleição, retornar a campo com uma candidatura alavancada pela corrida presidencial e pela situação privilegiada de onde encaramos o debate contra PT, PSDB e Marina Silva. Será capaz de cobrar de Marina Silva respostas sobre conversas entre o PSOL e o PV que ele, Martiniano, não se furtou de fazer, como dirigente partidário que é.

Este perfil garantirá a nós irmos para esta eleição capazes de acumular política. Poderemos fortalecer o PSOL em regiões diferentes, preparar novos mandatos parlamentares para que possamos preparar nossos novos quadros para enfrentar esta conjuntura de defensiva. Isso significará que poderemos indicar alguma referência quando nos perguntarem quem é do PSOL.

Para restabelecer seus vínculos com os movimentos sociais, com as massas e com a disputa de consciência na sociedade, não adianta ter um partido que seja capaz única e exclusivamente de afirmar seus princípios para as paredes. Do que adianta ter uma candidatura com único propósito de afirmar em poucos minutos na televisão que estas pessoas, desempregadas, sem comida, sem dinheiro e sem acesso à educação, precisam ser socialistas como nós. Que uma jovem liderança quilombola, ou de um bairro ou comunidade urbana, que resolva entrar hoje no PSOL para se lançar candidata, deva ter o nosso espírito de sacrifício, optando pelo PSOL mesmo nunca tendo condições de ganhar, eternamente sem legenda e sem condições sequer de causar preocupação aos políticos da burguesia hoje no poder! Com o único objetivo de demonstrar à opinião pública como somos bons.

Se hoje quem influencia de verdade os movimentos sociais é o PT, isso se dá porque o PT tem parlamento, tem institucionalidade. O PT tem um posto privilegiado para estabelecer suas relações com os movimentos sociais. Nenhum discurso é capaz de influenciar setores por si só.

Convencer uma pessoa comum do espírito de abnegação que nós temos é difícil. Que aquele cidadão comum não pode vender o voto para o candidato que lhe oferece uma “contra-partida”, porque os honestos mesmo somos nós! Que um trabalhador comum não pode votar em Paulo Hartung, em José Serra, em Lula porque somos nós o bastião da boa vontade. Convencer este trabalhador que ele precisa votar num candidato cheio de boas intenções, mas que jamais ganhará alguma eleição no restante da pouca vida que lhe sobra. Isso tudo em poucos minutos de TV e antes da novela e do Big Brother!

Nosso vínculo com as massas serão restabelecidos a partir de experiências concretas que nós precisaremos viver com as massas, e não experiências terceirizadas aos movimentos com quem morreremos tentando convencer a se aliarem conosco oferecendo à eles única e exclusivamente discurso!

Uma candidatura não é um objetivo em si só, não é uma “experiência concreta com o povo”. Um mandato pode ser. Menosprezar isso enchendo a boca para falar abstratamente que a “saída são os movimentos sociais”, não responde a questão.

Hoje no PSOL quem mais repete o mito de que não devemos nos preocupar com eleições e que a “saida está nos movimentos sociais” é justamente quem está mais afastado de tais movimentos. Pois não compreendem a dialética existente em política e a relação necessária que os movimentos sociais estabelecem com a institucionalidade. Ainda recorrendo a Lênin que disse uma vez aos esquerdistas que seus preconceitos parlamentares não passavam disso, de preconceitos.

Por isso a juventude precisar estar com Martiniano. Construindo, concomitante ao PSOL, suas lideranças. Um nome que não pretende concluir suas tarefas no PSOL em outubro, depois do Plim-plim da Rede Globo."

Tadeu Geurzet

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domingo, 14 de março de 2010

ESTUDANTES REALIZAM MANIFESTAÇÃO PELA REDUÇÃO DA PASSAGEM E SÃO AGREDIDOS PELA PM E GUARDA MUNICIPAL (COM COMENTÁRIO DE TADEU)



Link Youtube

Na tarde desta terça-feira, dia 9 de março, estudantes capixabas universitários e secundaristas realizaram manifestação em Vitória exigindo a redução da passagem e a democratização do Conselho Tarifário.

Durante o protesto, os estudantes ocuparam parcialmente a Avenida Beira Mar, caminhando da Prefeitura Municipal até a sede da Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (Ceturb-GV), onde pretendiam ocupar toda a avenida, a fim de realizar um Júri Popular sobre a calamidade do sistema de transporte público coletivo da Grande Vitória.

Entretanto, em frente à Ceturb, no momento em que os estudantes iniciaram o ato sentados na pista, Policiais Militares e Guardas Municipais começaram a agredir os participantes e a retirá-los à força. Conforme imagens divulgadas no Jornal ES TV Segunda edição, de A Gazeta, os estudantes foram, violentamente, arrastados pelo asfalto. As cenas mostram a truculência dos agentes de segurança pública, do Estado e da capital, quando um secundarista menor de idade é agarrado pelos cabelos e pés e tem o corpo arremessado há metros de distância.

De acordo com Vítor César Noronha, do Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE/Ufes), ao contrário do que a Ceturb vem divulgando, os estudantes não foram atendidos pela empresa. “É um absurdo toda essa violência e descaso. No mês passado, quando ocupamos o prédio do Setpes, foi feito um acordo que, posteriormente, tanto o Setpes quanto a Ceturb se negaram a cumprir”, explica Vítor César.

O acordado entre os manifestantes e as empresas de transporte (Ceturb e Setpes) era a realização de uma reunião do Cotar (Conselho Tarifário) com participação de uma Comissão (formada por trabalhadores e estudantes do movimento) para debater sobre as reivindicações apresentadas no manifesto do movimento.

“Fomos à Ceturb na data sugerida para a reunião, mas não fomos atendidos. Eles não cumpriram o compromisso assumido com o movimento e continuam tratando com descaso nossas reclamações, por isso nos mobilizamos para mais uma manifestação. E faremos quantos protestos forem necessários até que eles atendam nossas reivindicações”, afirma Vítor César.

As principais reivindicações do movimento são a redução imediata da tarifa das passagens, a concessão de passe-livre para estudantes e desempregados e a democratização do Conselho Tarifário, com maior representação da sociedade civil organizada.

Além disso, o movimento questiona também o atual modelo de transporte público coletivo. “É necessário colocar em debate o modelo de transporte que temos hoje. Não podemos aceitar que nosso direito de ir e vir seja tratado dessa forma. Queremos um transporte coletivo realmente público, de qualidade, onde os usuários possam viajar com segurança, conforto e agilidade”, ressalta.

Karina Moura

Comentário:

"Estive na manifestação. É um absurdo que ainda hoje, depois das experiências autoritárias e depois das experiências recentes de 2005, o estado continue tratando manifestações pacíficas, greves e demais ações reivindicatórias com tais níveis de truculência.

Não dizem que atrapalham a "vida cotidiana do cidadão comum" quando o prefeito ou o governador acaba com uma rua para fazer canteiro, quando abrem-se buracos a torto e a direito, quandoinvestem em obras superfaturadas intermináveis. A Praia de Camburí começou a ser feita ainda na gestão de Luiz Paulo na prefeitura, depois de 8 anos de João Coser ainda está inacabada e causando transtorno no transito até hoje.

O Movimento continuará nas ruas. Porque algumas pessoas mais tacanhas acreditam que apenas as reivindicações do povo "atrapalham" a vida de alguém?"

Tadeu Guerzet


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segunda-feira, 8 de março de 2010

Quem é o réu?

Economistas, filósofos, sociólogos e entusiastas de plantão proclamam a superação do capitalismo por ele próprio. As análises contorcionistas (mais otimistas) constatam uma “elevação do padrão de vida da humanidade”. Tudo isso é creditado à reestruturação produtiva, ao avanço tecnológico, aos celulares que tiram fotos, carros com câmbio automático, brinquedos que falam, computadores portáteis, pseudo-melhorias nas condições de trabalho, e de uma manipulação estatística que transforma em “prosperidade” termos como “supérfluo”, “descartável” e “efêmero”.

Contrariando os “advogados do diabo”, que saltam de alegria a cada publicação dos altos índices de lucratividade semestral da CVRD (Bradesco, Monsanto, etc), e aos que comemoram o bom momento do mercado financeiro, temos a fotografia de uma realidade menos morta, escancarada por Ricardo Antunes em seu artigo “Karoshi Tropical”.

O Karoshi é um “acometimento fatal por sobre-esforço, sendo considerado uma doença relacionada ao trabalho e que freqüentemente está associada a longos períodos de horas trabalhadas”, fenômeno constatado no Japão, mais ou menos no período em que um novo padrão de acumulação surgia no mundo. Significa “morrer de trabalhar”, ou algo parecido com “estafa”. Fugindo a qualquer coincidência, a terra do Toyotismo é a única do mundo a possuir um termo lingüístico para definir “morrer de tanto trabalhar”, ou seja, “Karoshi”.

O primeiro caso registrado de Karoshi deu-se em 1969, no Japão, quando morreu um trabalhador de 29 anos por infarto, distribuidor de jornais da maior empresa japonesa do ramo. A notícia popularizou o termo Karoshi e o Ministério do Trabalho Japonês, sob pressão, começou a publicar as estatísticas de 1980 a 1987 e estas apontam para o fato de que o Karoshi privilegiava quanto à sua sintomatologia terminal: os ataques cardíacos e os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), atingindo principalmente aqueles que trabalham mais de 3000 horas/ano.

No ano de 2003, foram 157 mortes por Karoshi no Japão, além dessas, ocorreram 155 casos de funcionários com disfunções cerebrais e doenças cardíacas originadas pelo prolongado número de horas trabalhadas. Das 312 vítimas do excesso de trabalho, 297 eram homens, a maior parte em torno de 50 anos e empregados em setores como transporte e comunicações. A estatística revelou, além disso, que em 2003 foi recebido um recorde de 438 solicitações de indenização por casos de distúrbios mentais, depressão ou suicídios ocasionados pelo excesso de trabalho, uma alta de 97% em relação ao ano anterior.

Além dos homicídios dolosos na lista de crimes do trabalho, existem seus casos culposos. Portanto, não se sintam seguros! Cerca de 3.000 pessoas se suicidam por dia no mundo, uma a cada 30 segundos. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por ocasião do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio declarou: "A porcentagem de suicídios aumentou em 60% no mundo durante os últimos 50 anos, e o aumento maior foi registrado nos países em desenvolvimento".

Dentre as listas de enfermidades do capitalismo moderno, temos ainda os cinematográficos casos de massacres estudantis nas escolas que crescem torrencialmente. Para não falar dos casos mais célebres, nos EUA, registram-se também eventos quase hollywoodianos de amoque no Japão, Escócia, África do Sul e Alemanha. Nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2002, em que jovens de, respectivamente, 15, 16, 22 e 19 anos, se envolveram em massacres escolares. Na chacina de Erfurt, por exemplo, quase todo o corpo docente, foi dizimado a tiros!

Esses não podem ser considerados como “casos isolados”, mas resultados de uma microexplosão social. Um fenômeno periódico, resultado do que viemos praticando nas escolas, na faculdade, nos bancos, nas linhas de produção e em todo o mundo. Transformando seres em máquinas produtivas abstratas, empresários de si mesmos sem nenhuma garantia, competições fratricidas, necessidade de auto-afirmação. Uma estrutura econômico-social que explora até o tutano do trabalhador/técnico/profissional, ou seja lá que nome que cada um prefira usar ou que ache mais adequado. O capitalismo é o réu.

No Brasil, diferentemente do Japão, o Karoshi se manifesta nas formas de trabalho mais primitivas e pesadas. O debate recente acerca do biodíesel e do etanol, levantou a questão das relações de trabalho nos canaviais brasileiros. E como estamos no país do carnaval? No país que se vangloria por ter conceito de primeiro mundo em cirurgias plásticas, mas que mata e escraviza pessoas nas masmorras de seus plantations em nome do tão defendido “agronegócio”, reflete a contradição de nosso subdesenvolvimento, como um entruncamento na cadeia evolutiva do capitalismo mundial. Uma sociedade “ornitorrinco” como nos ajudou o professor Chico Oliveira. Uma sociedade comparada a um mamífero, aquático, que põe ovo, tem rabo de castor e bico de pato. Eis aqui aonde viemos parar e onde essa onda nos trouxe!


Tadeu Guerzet

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