Destruíram nossas quaresmeiras, mas não impedirão nossa primavera!
A Mata Atlântica é uma das florestas mais devastadas do Brasil. Cerca de apenas 7% de sua área original permanece de pé.
Este final de semana fiz uma incursão pelo município de João Neiva-ES, passando por um dos trechos mais bonitos que já vi nesses estradões do interior (que não foram poucos).
Na ocasião, eu buscava chegar à comunidade remanescente Quilombola de São Pedro de Ibiraçu, que fica no município de Ibiraçu, embora se localize mais perto de João Neiva do que propriamente de Ibiraçu!.
Estavamos no carro eu, o companheiro Nilson Aliprandi e o companheiro Josely dos Reis, ambos membros do MTL.
Josely é um companheiro que se destaca na lua ambientalista no Espírito Santo. Partiu dele denuncias, coleta de provas, levantamento de desmatamentos, envenenadores de florestas, madeireiros, caçadores de animais em extinção, abatedouros clandestinos etc...etc... Muitas de suas brigas resultaram em importantes vitórias tanto na área da luta ambiental quanto dos direitos humanos como um todo, além do combate a corrupção no ES.
As diversas multas e apreensões que Josely causou a alguns proprietários rurais renderam a ele uma série de ameaças. Hoje, até onde sabemos, ele faz parte de duas listas de pessoas marcadas para morrer no interior do ES.
As terras daquela região, em grande parte, são de posse de pequenos agricultores que estão desmatando a Mata Atlântica para plantar eucalipto, motivados pelo fomento da Aracruz e promessas de lucros. Não preservam a mata desmotivados devido a falta de incentivo do governo para a pequena agricultura, falta de proteção e crédito ao pequeno camponês. Ou seja, cobiça de um lado, e favorecimento à empresa do outro.
Algumas propriedades, no entanto, pertencem a pessoas não-moradoras. Muitos são advogados, policiais e demais profissionais que moram e trabalham na capital, muitas vezes. Tem a terra por lazer.
Basicamente apuramos duas formas mais visíveis de desmatamento: O envenenamento das florestas e a derrubada sorrateira.
Em ambos os casos o comportamento das matas se assemelham a de animais sendo acuados por predadores ou pela ação do homem. Um olhar sensível te permite sentir a mata gritando por socorro enquanto é englobada paulatinamente pelos eucaliptais, sendo “fagocitada” vagarosamente e dolorosamente pelo "deserto verde", pela mata sem vida.
O envenenamento de florestas se dá quando há a aplicação direta nas árvores que vão secando até irem morrendo deixando uma área, que antes era mata densa, com cada vez menos árvores, que vão secando, caindo até se transformar num campo morto, vazio, pronto para o plantio do eucalipto.
A derrubada sorrateira é feita, na verdade, quando há o plantio do eucalipto numa área encostada na mata, e a cada corte, se derrubam mais árvores e se desmata mais circunscrevendo a mata atlântica e comprimindo-a, tornando-a uma ilha frágil num mar de eucaliptos que vai crescendo e tomando cada vez mais espaços.
A situação dessa região, especificamente, é dramática. Passamos por diversas nascentes de água já secas, córregos assoreados, restos de mata podre envenenada, ilhas de matas em meio à cortina de eucaliptais.
Certas áreas de matas estão tão ilhadas em meio ao eucalipto, ou, estão secando tão rapidamente, que é inevitável conjecturar o cenário sem aquelas árvores para muito em breve.
Uma floresta tão rica, bonita, colorida e refrescante, onde espécies como “xuxus” e “palmeiras” crescem de maneira nativa, corre o risco de desaparecer nessa região.
Nessas terras é onde se encontra o maior Jequitibá do Brasil. Quaresmeiras lindas e roxas, disputando espaço com eucaliptos feios, padronizados, sem vida.
No final foi recompensador chegar à comunidade quilombola de São Pedro. Um povo que luta contra as dificuldades do isolamento e da falta de assistência pública, lutando pelo seu território de direito e pela subsistência. Uma agricultura de subsistência onde grande parte é coletivizada e dividida entre eles mesmos.
Por fim, sobre a Mata Atlântica, fizemos filmagens e tiramos diversas fotos para cobrar das autoridades e exigir que sejam fiscalizadas estas áreas. Exigiremos que quem derruba floresta sejam punido, multado e que a área seja reflorestada. Manteremos firmes na luta em defesa da Mata Atlântica.
Tadeu Guerzet
terça-feira, 23 de março de 2010
QUARESMEIRAS X EUCALIPTOS
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